O que é ludopatia?
A ludopatia — também chamada de jogo patológico ou transtorno do jogo — é uma condição psicológica caracterizada pela compulsão por jogos de azar, como apostas esportivas, cassinos, bingos e jogos online. Não se trata de “falta de força de vontade” ou “vício por diversão”. É uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), classificada como um transtorno do controle dos impulsos.
A pessoa ludopata perde o controle sobre o próprio comportamento. Mesmo diante de perdas financeiras, problemas familiares, dívidas ou sofrimento emocional, ela não consegue parar de jogar.
Uma realidade crescente no Brasil
Com a expansão das apostas esportivas online, jogos de cassino digitais e bingos clandestinos, a ludopatia se tornou um problema de saúde pública no Brasil.
Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, o número de pessoas com dependência em jogos tem crescido de forma alarmante. Estima-se que entre 1% e 3% da população brasileira adulta sofra com algum grau de transtorno do jogo — e esse número pode ser ainda maior entre jovens e adolescentes, que têm fácil acesso aos aplicativos e sites de apostas.
Em muitos casos, a ludopatia se desenvolve de forma silenciosa, e só é percebida quando já causou grandes prejuízos: endividamento, rompimento de relações familiares, perda de emprego, depressão e até risco de suicídio.
Como identificar um caso de ludopatia?
Alguns sinais de alerta incluem:
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- Jogar com frequência cada vez maior;
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- Sentir ansiedade ou irritação ao tentar parar;
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- Mentir sobre o tempo ou o dinheiro gasto com jogos;
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- Apostar quantias cada vez maiores para sentir “emoção”;
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- Recorrer a empréstimos, cartões de crédito ou até vender bens para continuar jogando;
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- Negligenciar responsabilidades familiares, sociais ou profissionais.
Esses sinais indicam que o jogo deixou de ser lazer e se transformou em um vício.
Ludopatia é doença — e tem tratamento
A ludopatia é um transtorno que exige acompanhamento psicológico e, em muitos casos, psiquiátrico. O tratamento pode envolver:
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- Psicoterapia (individual ou em grupo);
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- Participação em grupos de apoio, como o Jogadores Anônimos (JA);
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- Apoio familiar;
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- Em alguns casos, uso de medicação para tratar ansiedade, depressão ou impulsividade.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece atendimento psicológico gratuito por meio dos CAPS AD (Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas), que também acolhem pessoas com dependência em jogos.
Além disso, por se tratar de doença cadastrada no CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), o tratamento da pessoa com ludopatia é obrigatório pelos planos de saúde.
E os direitos de quem sofre com ludopatia?
A pessoa com ludopatia tem direito à saúde, ao acolhimento e ao tratamento gratuito pelo SUS, conforme garantido pela Constituição Federal.
Além disso, em determinadas situações, os familiares podem acionar a Justiça para proteger o ludopata de decisões financeiras impulsivas, como:
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- Pedido de interdição parcial para impedir movimentações bancárias;
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- Suspensão de cartões de crédito;
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- Restrição de acesso a sites de apostas;
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- Encaminhamento obrigatório para tratamento (em casos graves).
Essas medidas devem sempre ser avaliadas com cuidado e responsabilidade, com apoio jurídico e psicológico.
O papel das famílias e da sociedade
A ludopatia é uma doença que atinge o indivíduo, mas impacta toda a família. É comum que os familiares sofram com dívidas, mentiras, angústia constante e medo do futuro.
Por isso, o acolhimento é fundamental. Não se trata de “culpar” ou “condenar” quem sofre com a compulsão, mas sim de buscar ajuda, abrir diálogo e oferecer suporte.
Campanhas de conscientização também são fundamentais para informar a população, regular a publicidade de jogos e proteger crianças e adolescentes, especialmente em um cenário de legalização crescente das apostas esportivas no Brasil.
A responsabilidade das plataformas de apostas
Com a regulamentação das apostas esportivas no país, torna-se ainda mais urgente que o Estado imponha regras claras e rigorosas para proteger os usuários. Entre as medidas que devem ser cobradas estão:
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- Ferramentas de autoexclusão para quem deseja parar de apostar;
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- Limites diários de depósito e tempo de uso;
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- Advertências sobre o risco de dependência;
- Proibição de publicidade agressiva voltada a jovens e vulneráveis.
Conclusão
A ludopatia é uma doença séria, real e que precisa ser tratada com empatia, informação e responsabilidade. Nenhuma pessoa começa a jogar pensando que pode perder o controle. Mas quando o prazer vira compulsão, é hora de buscar ajuda.
Se você está enfrentando esse problema ou conhece alguém que precisa de apoio, saiba: Há tratamento, há esperança, e há caminhos para retomar o controle da vida.